A reestruturação produtiva do capital, principalmente com a intensificação do uso tecnológico, internacionalização da produção e do consumo, traz importantes transformações para o mundo do trabalho. E essas mudanças e inovações não têm sido favoráveis aos trabalhadores. Pelo contrário. Tem-se intensificado a exploração dos trabalhadores ocupados e ampliado o número de pessoas que ainda cumprirá a função de ser um exército industrial de reserva a ser incluído, (in)formalmente, segundo os ditames do capital.
Essa dinâmica atual de exploração do capitalismo tem imposto à classe trabalhadora três processos combinados de readequação à vida. O primeiro é a precarização das condições de trabalho dentro e fora do ambiente laboral. Em segundo lugar, a luta pela sobrevivência está atrelada ao sistema de créditos e financiamentos, advinda dos salários cada vez mais contraídos. E, por fim, a dificuldade de organização fora do local de trabalho, dada a jornada de trabalho exaustiva.
Neste contexto, a juventude vem sendo a principal vítima das tensões próprias do processo de dominação do capital contra o trabalho. Segundo o último relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), dos 620 milhões de jovens que compõem a população economicamente ativa (PEA), em idade de 15 a 24 anos, 81 milhões estavam desempregados em 2009. Ou seja, aproximadamente 13,1% da população mundial jovem está fora do mercado de trabalho.
O fato é que a juventude vive dilemas próprios do atual modelo de desenvolvimento das forças produtivas e das relações sociais de produção do século 21. Um modelo no qual o capital concentra parte expressiva das riquezas de diversos territórios nacionais, em seu processo de consolidação da expansão mundial coordenada por poucos e fortes conglomerados financeiros-econômicos mundiais.
Essa concentração traz para dentro das nações uma vulnerabilidade sem precedentes – coloca ainda mais em xeque a soberania nacional – e torna marginal uma parcela da classe trabalhadora. Os jovens que estão sendo preparados para ocupar uma posição no mundo da sobrevivência, não encontrarão uma inserção imediata no mercado. A alternativa do próprio capital, frente à dinâmica de roubo do tempo dos que estão empregados e o aumento da preparação dos que estão desempregados, é a de instituir o critério do empreendedorismo.
O empreendedorismo é a manifestação clara da perversidade da ação do capital sobre o trabalho, enquanto técnica, ação, formação do imaginário coletivo desse grupo. Dessa forma, se transfere, novamente, para o indivíduo uma situação coletiva, relacionada com toda a sociedade. Além disso, é a forma propagandista de ocultamento da real condição do trabalho frente às metamorfoses geradas no seio do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas, ao longo de seu caminhar histórico.
No empreendedorismo, se ratifica a individualização da formação da consciência desde e para o trabalho, em que homens e mulheres jovens, na concorrência pela sobrevivência, manifestem sua capacidade criativa-inventiva, propondo algo (inovador ou necessário) que possa ser rapidamente absorvido pelo mercado consumidor/produtor de bens e serviços.
Dentro da juventude, outros grupos, como mulheres, negros e índios vivem essas contradições para toda a classe e de forma particular para a juventude, de forma ainda mais intensa. Mas, para o capitalismo, é oportuna essa fragmentação para a seleção de diferentes grupos no âmbito formal da exploração. Assim, à exploração do trabalho, se somam as classificações por grupos de idade, de gênero e de etnia-raça com o fim de diferenciar. Com isso, podem lucrar com as múltiplas funções colocadas a cada um de maneira individual no processo produtivo. Jovens mulheres têm um acesso menor que jovens homens e entre esses, jovens brancos, uma inserção maior que jovens negros e índios.
Além disso, a concepção de globalização como algo comum e igual cai por terra quando comparamos a inserção no mercado de trabalho dentro das nações a partir das diferenças regionais e nacionais. Jovens dos países centrais terão uma inserção, na disputa dentro de seus territórios, maior que jovens de nacionalidades periféricas. Esses estarão projetados para trabalhos de menor importância, desde que não haja crise e uma diminuição ainda mais intensa dos postos formais de trabalho com maior qualificação.
A verdade é que a juventude pobre, da classe trabalhadora urbana, não tem espaço nesse modelo de dominação do capital financeiro e internacionalizado. Nem nos países chamados ricos, como na Europa, onde o desemprego atinge até 40% da juventude. E a primeira década deste século evidencia não só a revolução do capital e sua acentuação sobre o trabalho – que está cada vez mais condicionado e reduzido à lógica dominante atual –, mas a formação da consciência sobre o futuro da nação.
Frente a esse cenário, somente se abrirá uma perspectiva de futuro com organização da juventude. Para isso, é preciso desenvolver consciência de classe e motivá-los para que se mobilizem, lutem. Mas, como a maioria está fora do mercado de trabalho, temos que desenvolver novas formas de atuação política que os ajudem a debater, a se aglutinar. Assim, descobrirão que é preciso construir um outro modelo de sociedade. E, juntos, construiremos um “outro mundo possível”.
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